No meu Alentejo passam-se coisas muito bizarras. No meu Alentejo (o que existe dentro da minha cabeça) oiço vozes e vejo imagens que me fazem enlouquecer. Nesse meu Alentejo vejo coisas lindas: As suas cores na Primavera e no Outono; as terras brancas e azuis; as pessoas da terra onde moro (as quais ainda se cumprimentam quando passam umas pelas outras); a qualidade de vida que tenho (que muitos dos meus amigos urbanos gostariam de usufruir); as potencialidades que por todo ele existem.Depois vejo e oiço outras coisas: vejo muita discussão sobre o seu futuro, vejo terra desaproveitada, vejo agricultores desesperados, vejo engenheiros e doutores com grandes conversas técnicas para pessoas que só querem saber como voltar a viver dos rendimentos agrícolas ou rurais. Vejo engenheiros e doutores, com responsabilidades na área agrícola e rural, a referirem-se aos agricultores como eles, como se eles fossem uma espécie diferente composta essencialmente por estúpidos e ignorantes que só pensam em dinheiro (sim, porque eles podem muito bem sobreviver comendo terra e bebendo água). Sim, a culpa é deles dos que trabalham praticamente de sol a sol, que tentam vender os seus produtos em pequenos mercados ou à beira da estrada, que não se associam com medo do que aconteceu no passado, dos que nunca foram apoiados com uma efectiva e estruturada EXTENSÃO RURAL ESTATAL (como nos outros países que invejamos, sei lá: IRLANDA, FRANÇA, ITÁLIA, HOLANDA, etc..) dos que se tornaram subsidio dependentes porque os doutores e engenheiros assim lhes disseram, dos que agora já não acreditam no que os doutores e engenheiros lhes dizem e tentam sobreviver com a sua experiência, dos que têm que aturar recém licenciados, ou mestrados, ou doutorados, que nunca viram uma enchada à frente e que assumem que a experiência de uma vida dedicada à agricultura é inferior. A culpa é deles, dos que vêem no Alqueva a última esperança, dos que têm um amor à terra que os urbanos não entendem, nem nunca irão entender.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
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